Try for reason...
But passion never lives, it dies with reason.
Franz Ferdinand
Vou contar aqui algo que eu nunca contei a ninguém. Algo que eu tenho tentado ignorar há anos, mas que volta sempre com força total em momentos como os dessa semana: a história de como eu bombei minha aula optativa de pintura na faculdade...
Mas antes... Uma prévia.
No meu ultimo post por aqui eu falei do meu "Desafio 283", ou como, faltando 283 dias para o final do ano, eu iria me comprometer a fazer 283 rascunhos até o final do ano. Estava indo bem mas, de repente: travei.
Queria poder dizer que a minha autocrítica é a culpada. Que vendo o que muita gente profissional posta nas redes sociais, deu até vergonha dos meus garranchos... Ou que vendo o que muitos amadores que se dedicam a Sketchbooks há muito mais tempo publicam, eu me senti desanimada... Isso afeta, é claro -- mas talvez, no máximo, uns 10%.
A verdade é -- ou pelo menos eu acredito que seja -- que eu não consigo lidar com essa energia. É muito confortável passar a vida dizendo que eu deveria desenhar mais e estar mais presente nos meus Sketchbooks. É muito fácil dizer que qualquer pessoa tem 10 minutos para dedicar a isso diariamente. Mas quando eu começo a rabiscar regularmente... Isso me engole. 10 minutos viram 1 hora, um rabisco por dia vira dois, e eu começo a não ter vontade de fazer nada que não seja isso. Parece bom? De certa forma... Mas faz eu ficar sem saco para projetos de trabalho que pagam as contas, sem saco pras coisas de casa, sem saco pra qualquer outra coisa... Aí eu fujo, e zero o placar; simplesmente por que eu preciso voltar a ser funcional, e esses rabiscos não pagam as contas ou lavam a louça.
E aí me lembro: optativa de Pintura, em Artes Plásticas, quando eu cursava Publicidade. Já se vão 13 anos aí, e tudo que eu tenho que dizer é: eu bombei feio. Acho que fui ao todo em no máximo 3, 4 aulas do semestre. Ao ideia da aula era escolher um material (eu escolhi pasteis porque eram algo que eu sempre gostei visualmente, mas acabei evitando utilizar), e fazer pinturas de observação pela faculdade, em casa, onde fosse. Era tão bom estar ali, fazia eu me sentir tão bem apesar dos resultados, que começou a dar tilt na minha cabeça sobre o que eu estava fazendo da vida (na época eu trabalhava meio período numa empresa, e comecei a me perguntar demais o que fazia ali). Aí eu comecei a ficar nervosa de ir as aulas... Comecei a me atrasar, alguns dias ficava sentada nos bancos próximo ao ponto de ônibus que eu chegava, suando frio e tentando me convencer que em 15 minutos eu entraria... Ou meia hora... Ou uma hora... Ou quem sabe, como já era tarde, na próxima semana eu entraria na hora. Depois de umas 02 a 03 semanas disso, a faculdade entrou em greve e eu convenientemente perdi os contatos necessários para saber sobre as reposições necessárias -- que eu imagino que nem houveram pq adesões reais a greve na faculdade sempre eram de uns 10% das aulas, então é provável que a aula tenha continuado durante a greve. Eu não olhei mais pra trás, nunca mais procurei saber -- me conformei em ter que conseguir aqueles créditos em outro semestre, deixei quieto.
Mas essa questão nunca ficou quieta.
Eu vi esse padrão se repetir quando fui pra Quanta...
Se repetiu quando fui pra Academia de Animação (chegando ao cúmulo de pagar 100% de um curso caro e abandonar 04 meses antes do fim -- embora aqui um professor com ideias horrendas sobre a vida e a humanidade tenham também alguma influência)...
Se repetiu também quando fui aprender pintar em lápis de cor na ÁreaE.
Até hoje eu acreditava, sinceramente, que esse abandono tinha a ver com qualidade -- mas quando eu passei três dias desenhando de novo e esse sentimento apareceu novamente... Bem, tive que reavaliar algumas coisas.
A gente passa a vida querendo encontrar a nossa "paixão"... Mas e se a grande questão não for encontrar a nossa paixão, mas aceitar ser consumido por ela? O que eu percebi essa semana é que talvez a questão que me afasta do papel talvez não seja a procrastinação... Mas o medo do pode acontecer se eu mandar todo resto as favas e não me afastar mais dele.
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